Operação dos EUA retira opositores de Maduro asilados na embaixada argentina na Venezuela
Integrantes da diplomacia brasileira disseram nesta quarta-feira (7) que o governo foi pego de surpresa com a operação comandada pelos Estados Unidos para retirar opositores de Nicolás Maduro asilados na embaixada da Argentina em Caracas, capital da Venezuela.
O que aconteceu
Como o governo do presidente argentino Javier Milei — a exemplo de outros países, organismos multilaterais e líderes internacionais — não reconheceu a vitória de Nicolás Maduro nas eleições do ano passado, a Venezuela expulsou os diplomatas argentinos de Caracas.
Com isso, o Brasil assumiu a custódia da embaixada da Argentina na Venezuela.
A possibilidade de um país assumir os interesses de outro em determinado território está prevista na Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas de 1961 e da Convenção de Viena sobre Relações Consulares de 1963.
Nesta terça (6), o secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, informou que opositores de Maduro que estavam abrigados na embaixada da Argentina em Caracas foram resgatados e levados aos EUA em uma operação que teve a participação do governo americano.
O posto ocupado por Rubio equivale ao de ministro das Relações Exteriores no Brasil.
Questionados se o governo brasileiro sabia da operação previamente e se cooperou com o governo americano, diplomatas disseram à GloboNews, de forma reservada, que o governo brasileiro não tinha conhecimento da cooperação.
Acrescentaram que a “linha de atuação” do Itamaraty “sempre” foi trabalhar para conseguir salvo-condutos a esses opositores de Maduro para que eles fossem buscados como asilados, o que o governo venezuelano nunca concedeu.
“Não estão claras as circunstâncias da saída”, relatou um diplomata, acrescentando que a embaixada está cercada por forças de segurança locais.
Repercussão- resgate bem sucedido
Em uma rede social, Marco Rubio publicou uma mensagem comemorando a retirada dos opositores de Maduro da embaixada.
“Os EUA comemoram o resgate bem-sucedido de todos os reféns mantidos pelo regime de Maduro na Embaixada Argentina em Caracas”, disse o secretário de Estado americano.
Além disso, o presidente da Argentina, Javier Milei, comemorou a operação, que chamou de “extração” — indicando que foi feita à revelia do regime de Maduro.
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Lula e Maduro
Até então aliados, os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Nicolás Maduro estão distantes politicamente, assim como estão distantes as relações diplomáticas entre os dois países.
Lula, a exemplo de outros líderes internacionais, cobrou, e Maduro não gostou, a divulgação das chamadas atas eleitorais, que comprovariam o resultado das eleições presidenciais venezuelanas de 2024.
O Brasil não reconheceu formalmente a vitória de Maduro nem da oposição. O entendimento na diplomacia é que, diante da polêmica sobre as atas, o Brasil deve reconhecer o Estado venezuelano, não um governo em si.