Moradoras apontam ausência de insumos básicos e reagendamentos constantes no sistema do centro de reabilitação
Problemas estruturais e necessidade de contratações
Falta de profissionais, banheiros sujos, sessões de atendimento curtas, reagendamentos inesperados e ausência de políticas públicas para adolescentes e adultos com autismo. Esses são alguns dos problemas relatados por mães de crianças e adolescentes com TEA (Transtorno do Espectro Autista) que utilizam os serviços do CER (Centro Especializado em Reabilitação) de Embu das Artes, na Grande São Paulo.
Segundo a especialista, os pequenos precisam de mais tempo para interagir e se adaptar ao ambiente; do contrário, não desenvolvem habilidades sociais.
A estudante de pedagogia Mônica de Oliveira, 37, reforçou essas queixas em um vídeo publicado em suas redes sociais em 17 de abril de 2025. Líder do coletivo Maeb (Mães Atípicas de Embu), ela retirou o filho Mathias, 5, do CER em abril de 2024. Conta que não viu evolução no tratamento e atribui isso ao tempo das sessões, que ainda varia de 15 a 20 minutos por semana, segundo ela e outras mães.
A psicóloga Danúsia Tolêdo, 31, especializada em ABA (Análise de Comportamento Aplicada) e atuante no Maeb, avalia que crianças com autismo demandam mais tempo, sendo 50 minutos o mínimo esperado.
Além do tempo apertado das consultas, as mães atípicas também lidam com reagendamentos imprevistos e o formato das sessões. Eric, 5, é filho da dona de casa Tatiane Pereira, 37, e utiliza o equipamento quinzenalmente. De acordo com ela, às vezes a sessão é remarcada de última hora e, quando ocorre, é em grupo, prejudicando o aproveitamento individual de cada criança.
Ao comentar sobre a última consulta do filho, Tatiane elogiou a nutricionista, mas lamentou que ela tenha pedido exoneração por desgaste físico e mental. “Fico triste porque é mais uma ótima profissional que a rede perde. Entendo o motivo dela estar saindo, mas sei que vai demorar para colocarem outra profissional”, afirma.
O profissional de neurologia foi contratado há cerca de um mês, mas o serviço público ficou sem um profissional da área por um ano e meio.
“Fonoaudiólogos têm, mas não estão dando conta da demanda. Terapeuta ocupacional tem uma, que também não dá conta nem da metade da demanda. Aliás, ela trabalha lá no período da manhã, no período da tarde, até o final do expediente, ou seja, um ser humano não dá conta de tudo isso”, afirma Mônica.
A dona de casa Camila Félix, 33, também integrante do Maeb, destaca que, apesar de a prefeitura dizer que não há fila, muitas mães aguardam atendimento há anos. “Estão dando muita alta. Dizem que não tem fila, mas conheço mães esperando há mais de dois anos. Não sei onde foram parar esses encaminhamentos médicos”, questiona.
Higiene precária e estrutura deficiente
A ausência de insumos básicos de higiene e de profissionais de limpeza no CER também revolta as mães. Em vídeo publicado nas redes sociais, a estudante Mônica de Oliveira descreve a situação dos banheiros sujos e a falta de produtos como papel higiênico e sabonete.
As imagens registram um dos três banheiros da unidade, que atualmente conta com três profissionais de limpeza. Avisos com datas de higienização foram afixados nas portas.
Camila relatou que o CER estava sem uma profissional de limpeza desde dezembro de 2024, mas que viu uma nova funcionária recentemente na função. Segundo ela, outras mães relataram a presença de larvas no galão de água, quando o recipiente foi trocado em janeiro de 2025. Ha também ausência de políticas públicas para adolescentes e adultos com autismo.
O que diz a Prefeitura
Questionada sobre as denúncias, a Prefeitura de Embu das Artes informou que o serviço público presta um importante serviço para a população, com média de mais de 5.000 atendimentos por mês, nas especialidades de fisioterapia, fisiatria, neurologia infantil, psicologia, fonoaudiologia, terapia ocupacional, consulta de enfermagem, serviço social e pediatria, no formato individual e/ou grupos.
Em relação a falta de limpeza e de insumos básicos de higiene pessoal, a prefeitura informou que a equipe do CER é acompanhada pela equipe técnica da Secretaria Municipal de Saúde, tendo suas práticas e produção monitoradas e correspondendo às normas técnicas preconizadas pelo Ministério da Saúde.
Sobre a exoneração de uma das nutricionistas da instituição, o órgão público afirmou que a servidora está afastada por problemas de saúde e que os casos identificados com necessidade de atendimento neste período, estão sendo redirecionados e atendidos pela rede municipal de saúde.